quinta-feira, 28 de abril de 2011

Poema de Almeida Garret

As minhas asas 

Eu tinha umas asas brancas, 
Asas que um anjo me deu, 
Que, em me eu cansando da terra, 
Batia,as, voava ao céu. 
- Eram brancas, brancas, brancas, 
Como as do anjo que mas deu: 
Eu inocente como elas, 
Por isso voava ao céu. 
Veio a cobiça da terra, 
Vinha para me tentar; 
Por seus montes de tesouros 
Minhas asas não quis dar. 
- Veio a ambição, co'as as grandezas, 
Vinham para mas cortar, 
Davam,me poder e glória; 
Por nenhum preço as quis dar. 
Porque as minhas asas brancas, 
Asas que um anjo me deu, 
Em me eu cansando da terra 
Batia,as, voava ao céu. 
Mas uma noite sem lua 
Que eu contemplava as estrelas, 
E já suspenso da terra, 
Ia voar para elas, 
- Deixei descair os olhos 
Do céu alto e das estrelas ... 
Vi, entre a névoa da terra, 
Outra luz mais bela que elas. 
E as minhas asas brancas, 
Asas que um anjo me deu, 
Para a terra me pesavam, 
Já não se erguiam ao céu. 

Cegou,me essa luz funesta 
De enfeitiçados amores ... 
Fatal amor, negra hora 
Foi aquela hora de dores! 
- Tudo perdi nessa hora 
Que provei nos seus amores 
O doce fel do deleite, 
O acre prazer das dores. 
E as minhas asas brancas, 
Asas que um anjo me deu, 
Pena a pena, me caíram ... 
Nunca mais voei ao céu.


Sem comentários:

Enviar um comentário